História
O Fotógrafo
Considerado por especialistas um dos melhores do mundo em coberturas esportivas, o paraibano Alberto Ferreira Lima venceu vários prêmios importantes durante os 30 anos que trabalhou no Jornal do Brasil (25 anos como Editor do departamento de fotografia). Uma de suas fotos mais famosas, que lhe valeu o prêmio Esso de fotografia em 1963, registra o exato momento em que Pelé, na partida contra Tcheco-Eslováquia, sente a contusão que o afastou definitivamente da Copa do Mundo do Chile, em 1962. “O rei se curva ante a dor que o Brasil todo sentiu”, título da foto no JB, era o reconhecimento ao que fazia de Alberto Ferreira um profissional de alto nível: um dos precursores do jornalismo fotográfico no Brasil e um dos primeiros a dar fundamento ao velho chavão das redações de que “uma foto vale mais que mil palavras”.
Alberto Ferreira tinha a intuição que faz com que os grandes fotógrafos prevejam os fatos frações de segundos antes que eles aconteçam. Foi assim que, em uma época de equipamentos fotográficos inteiramente mecânicos, registrou com uma Leica M3, em fotograma isolado, o vôo de Pelé em sua famosa bicicleta, num jogo contra a Bélgica, no Maracanã, em 1965. É sua foto mais famosa: deu-lhe naquele ano o prêmio SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), e depois se tornou um símbolo: esteve exposta no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, no Maracanã, no Centro Cultural da Justiça Federal e no Centro Cultural Banco do Brasil, faz parte do Acervo do Museu Europeu de Fotografia como um dos 28 Instantâneos de Felicidade e tabém compõe as exposições L’Extreme em Paris e Extremos no Instituto Moreira Sales no Rio e em São Paulo. Foi escolhida por Pelé para representar a síntese de sua carreira.
Esteve diretamente ligada a três Copas do Mundo; tornou-se marca da do México, em 1970, e o MasterCard a estampou em seus cartões, por ocasião da Copa do Japão e Corea em 2002, como um dos momentos máximos da arte do futebol. Na Copa de 2006, a foto ficou exposta em Berlim, e a Coca-Cola fez imagens ampliadas (outdoors) que cobriam fachadas de prédios, abrigos de ônibus e relógios de rua, durante 24 meses, em Tóquio, Paris, Londres e Nova Iorque, além de ilustrar com ela anúncios em jornais e revistas do mundo inteiro.
Alberto Ferreira participou de diversas coberturas no exterior ligadas ao esporte brasileiro, não só ao futebol. Cobriu a Copa da Inglaterra, em 1966, acompanhou a Seleção Brasileira na excursão de 1968 à Europa e trabalhou na Copa do México em 1970. Dois anos mais tarde, passou longa temporada cobrindo o desempenho vitorioso de Emerson Fittipaldi na Fórmula-1 na Europa, seguindo depois para as Olimpíadas de Munique. Enviado também às Olimpíadas de Moscou, em 1980, foi o único fotógrafo que conseguiu fazer uma seqüência de fotos da única queda durante uma competição da campeoníssima ginasta olímpica romena Nádia Comanecci. Ganhou o prêmio Bola de Ouro pela cobertura fotográfica feita pelo Jornal do Brasil. Em 1982, Alberto Ferreira partiu para o campeonato mundial de futebol na Espanha. Considerava esta fase incomparável em termos de trabalho duro, mas compensadora porque a cobertura do Jornal do Brasil foi considerada a melhor entre todos os jornais e em 1986 esteve novamente no México para a Copa do Mundo.
Alberto Ferreira distinguiu-se em eventos esportivos, mas foi notável também em outras áreas, como a cobertura do concurso Miss Universo em Miami, em 1963, e os funerais de Bob Kennedy, em Washington, em 1968, que considerava um dos momentos mais emocionantes de sua carreira.
Esteve presente nas principais coberturas fotográficas durante a época em que trabalhou e assim, através de suas lentes e seu olhar único, documentou importantes momentos da história do Brasil e do mundo. Construiu o maior e mais completo acervo autoral sobre a construção e a inauguração de Brasília. De 1958 até sua inauguração em 21 de abril de 1960, Alberto Ferreira esteve por diversas vezes na cidade acompanhando a Condessa Pereira Carneiro, dona no Jornal do Brasil na época. As imagens das visitas de cortesia da Condessa ao então Presidente Juscelino Kubitschek durante as obras e a inauguração, foram publicadas pelo JB na época. O restante do material, ou seja, o registro da colocação das pedras fundamentais, e, sobretudo a documentação da vida e trabalho dos candangos começaram a ser divulgados em 2003, no ano do Brasil da França, na mostra “Brasília, uma Metáfora da Liberdade”, juntamente com as imagens contemporâneas de Jair Lanes.
Em 2005, Alberto Ferreira expôs em Paris, fazendo parte da coleção da MEP (Maisom Européene de la Photographie), que revela o “instantâneo” como parte fundamental da nossa memória pessoal e coletiva e foi considerado um dos 28 maiores fotógrafos do século junto com Sebastião Salgado (os dois únicos Brasileiros) além de Henri Cartier Bresson, Robert Doisneau, Edouard Boubat, Pierre Verger e outros. Em 2010, participa da exposição Autour de L’Extreme no MEP e em 2011 a exposição vem ao Brasil com o nome Extremos através da parceria entre o Instituto Moreira Sales e a Maison.
Alberto Ferreira morreu em 11 de março de 2007 aos 75 anos de idade e deixou um acervo de aproximadamente 20 mil imagens. No arquivo estão as imagens conhecidas como a “Bicicleta do Pelé” e muitas inéditas que Alberto selecionou ao longo de sua carreira e que considerava a verdadeira expressão de sua obra. Temas como a construção de Brasília, Nordeste, Rio antigo, carnaval, personalidades, Europa nas décadas de 60 e 70, Pelé, Garrincha, Copas do Mundo de Futebol, Olimpíadas e muitos outros compõem o acervo. O riquíssimo material fotográfico está digitalizado e passa por um trabalho de curadoria para que possa ser apresentado em livros e exposições que serão realizadas no Brasil e no exterior.